«Pá! Anda cá que o teu filho está a chorar, foda-se!»
Raios partam o homem! Um dia destes chega a casa da tasca e não encontra ninguém cá. Um dia arrumo as malas e fujo com o “meu filho” - como ele diz. Já não chega lavar-lhe a roupa, engomar, limpar a casa, arrumar, cozinhar e ainda foder com ele a tresandar a vinho? Ainda tenho de o ouvir gritar comigo?
Saio da cozinha e vou ao quarto do miúdo.
Para variar, só quer atenção, mais nada. Provavelmente atirou-se para o chão na brincadeira e desatou a berrar para que eu venha beijar-lhe o “doi-doi”.
«Pronto, pronto... já passou... vês? Já não doi nada.»
Cabrão do homem que não faz nada de jeito. Passa o dia entre o trabalho de merda que tem - a única coisa que sabe fazer é acartar baldes! - a tasca e o sofá em frente à puta da televisão! Porque é que ele não se vai embora e nos deixa em paz? Trabalho que nem uma escrava no refeitório, tenho de fazer tudo em casa e ainda tenho de o aturar?
Ao sair do quarto, recordo-me dos sonhos que tínhamos quando éramos novos e decidimos casar. Tudo era tão bonito! Ele era tão bonito!... Eu era tão ingénua... Agora ele é um estafermo!
Chego à sala. Lá está o grande cabrão de merda, sentado no sofá agarrado à garrafa. A televisão, como sempre, ligada no canal da bola e aos altos berros. Filho da puta!
O meu olhar dá com a fotografia dele na moldura ao lado da televisão. Já lá vão três anos que ele levou com aquele andaime em cima. Três anos passaram desde que foi a enterrar!... Mas o cabrão do homem nem morto me deixa em paz!