Rapunzel desmancha a trança devagar, os seus dedos movendo-se com a precisão adquirida durante anos de prática. Olha em volta para um quarto luxuosamente mobilado, o único que conhece. Um quarto no topo de uma Torre, a Torre no centro de uma Floresta. Está só.
Durante muitos anos apenas conheceu a velha que cuidava dela. Vinha todas a noites com uma cesta de comida e pedia-lhe para largar a trança pela janela. Enquanto Ranpunzel comia, a velha percorria o quarto com um olhar reprovador. Terminada a ceia, a velha ia-se com a cesta, sem palavra ou carícia.
Os dedos hábeis percorrem as suas longas madeixas, espalhando óleo de amêndoas, num prelúdio para o pente de ouro e marfim.
Quando já era crescida, veio um desconhecido que lhe pediu que largasse a trança. Já no quarto, agarrou-a e deitou-se com ela. Rapunzel não gostava daquele homem, pois ele era rude e magoava-a, mas nunca se atreveu a dizer-lhe que não. Tinha medo que ele partisse, deixando-a sozinha outra vez. Mas o homem cedo se enfastiou dela e foi-se embora, sem sequer dizer adeus.
Rapunzel penteia os cabelos devagar. Depois de o homem a ter abandonado, o ventre começou-lhe a inchar. Rapunzel sentiu-se feliz, pois já não estava só. Mas quando o bebé nasceu, a velha meteu-o na cesta e levou-o, surda a gritos e súplicas.
Rapunzel refaz a trança. Ata a ponta ao poste da cama com um nó cego. Caminha até à janela, senta-se na umbreira e deixa-se cair. A trança seguea-a até que se ouve o som seco do pescoço a estalar. No quarto, o nó desfaz-se sobre o peso e Rapunzel chega finalmente ao chão.
*
A velha chega com a noite e vê Rapunzel caída. Corta-lhe a trança com um punhal, guarda-a na cesta e vai-se embora.