O carteiro chegou à hora do almoço. A altura não podia ser pior.
Ele bateu à porta, e a minha cunhada foi atender, deixando o resto da familia lá sentada. Quando voltou para dentro, trazia um envelope cheio e almofadado na mão.
- É para ti - disse-me.
Sem me levantar da mesa, peguei no envelope, algo desconfiado. Não estava à espera de nenhuma encomenda, e o remetente era de uma qualquer editora que não me era familiar.
Abri o envelope, e olhei lá para dentro, não mostrando o conteúdo, apesar da óbvia curiosidade do resto da família. E o conteúdo não me podia ter espantado mais.
- O que é? - perguntou a minha mãe.
- Hã, são coisas para mim, nada de especial. - Levantei-me da mesa, falhando em esconder o meu embaraço.
Dirigi-me para o meu quarto, onde poderia guardar discretamente o conteúdo do envelope, enviado sabia-se lá por quem. Mas movida pela sua costumeira curiosidade, a minha mãe seguiu-me.
- Pois, para não quereres dizer, deve ser linda coisa.
Pronto. Se ela queria saber, tudo bem.
- É uma caixa de 12 preservativos, um anel vibrador, e uma bisnaga de lubrificante, mãe.
Ela parou por um segundo, supreendida. Mas só por um segundo.
- Posso ficar com o lubrificante?
Agora surpreendido estava eu.
- Mãe, isto só dá para sexo. Mais nada.
- Eu sei. Posso ficar com ele?
Nem sabia que mais dizer-lhe. Dei-lhe a bisnaga, sem palavras, e ela levou-a sem dizer mais.
Eventualmente, pesquisei o nome da editora, e descobri que o envelope me tinha sido enviado por uma revista para homens, como prémio por ter respondido a um inquérito.
Foi simpático da parte deles, mas algo inutil, porque eu acabei por deitar tudo para o lixo.
Não ia conseguir usar nada daquilo sem pensar na minha mãe.