O céu parecia desabar naquele fim de tarde, tal era a torrente. Teresa, sentada no autocarro que a levava para casa, olhava pela janela com o mesmo desalento com que era premiada pelo cenário do outro lado do vidro. Sentia-se dissolver, aquosa como a chuva que escorria pelo para-brisas.
Olhou o relógio de pulso; já passavam das sete e meia. Teresa pensou no que iria preparar para o jantar, que seria tomado a sós, em frente à televisão, enquanto esta vomita histórias irreais sobre famílias incoerentemente problemáticas e felizes.
Não costumava andar de autocarro, mas tivera de deixar o seu Mini S Cooper na oficina para uma renovação completa do sistema de travagem. Teresa era advogada empresarial e dinheiro, ou a sua falta, nunca fora um problema.
Teresa é bonita, elegante, tem uma casa fantástica, uma carreira de sonho e, até algumas horas atrás, um carro que gritava estilo. Teresa tem tudo. E no entanto, olhava pela janela, com a garganta a arder da vontade de chorar, para a água que escorria pelas valetas, a água que era Teresa, em que ninguém notava. Apenas mais um riacho de chuva.
Saiu na paragem seguinte. Como não tinha guarda-chuva, em poucos minutos ficou encharcada, com a chuva a escorrer-lhe pelo rosto. Foi então que as lágrimas começaram a cair, tímidas de inicio e depois copiosamente. Teresa foi tomada por um choro furioso cortado por soluços e espasmos que lhe percorrem o corpo. No seu pranto as pernas perdem a força, e Teresa cai no passeio. Põe-se a gritar, com a força que ainda tem, a dor que a esgana. Teresa encharcada uiva e brada, chora e soluça e treme até não poder mais.
A chuva e o choro abrandam. As nuvens abrem-se, mostrando um Sol tímido. Teresa levanta-se e vai para casa.