Numa rua fria e movimentada, vivia o Homenzinho. Rodeado pela poluição de mais de mil tubos de escape, ele comia uma refeição ligeira dentro do seu quiosque com livros manuseados. Nada da sua vida espelhava as suas mais perfeitas ideias de como seria viver bem. Durante anos a ouvir buzinadelas de carros,lamentar de pessoas, rixas e outras cegadas, levaram a que a sua mente passasse a ler o mundo com novos níveis de entendimento.
O rendimento obtido no quiosque não tapava o buraco negro da ganância. Como qualquer amante de leituras de contracapas sabia como puxar a atenção de quem por ali passsava. Com o tempo desenvolveu um instinto apurado para reconhecer coisas que davam dinheiro.
O contacto com o grupo “Arquitectos" ampliou a área de acção, passou a ter uma rede de contactos com o submundo do crime literário e a aceder a livros baratíssimos. Concebeu um esquema genial, vender banda desenhada usada a adolescentes com acne. Comprava a 10 escudos, vendia a mil. Comprava a 50 escudos, vendia a 5000. Rios de dinheiro encheram os seus bolsos. Por desconfiar dos Bancos, guardava o dinheiro no colchão, sempre em segredo da família. O seu poder tornou-se lendário, do quiosque controlava a economia do país e a comunicação social.
Dois jovens, cujas identidades temos de manter em segredo, trabalharam disfarçados fingindo-se interessados nas sugestões literárias do Homenzinho. Reunidas provas comprometedoras, a polícia avançou um cerco ao quiosque. Num acto de desespero, pegou fogo ao seu prórprio quiosque e desapareceu nas cinzas. Nenhum corpo foi encontrado, nem nenhuma pista sobre os “Arquitectos” foi sólida para os apanhar. Todo o submundo do crime literário ficou em brasa com as chamas daquela noite e assim começou a guerra pelo legado do Homenzinho, mas isso é uma outra história para outra altura.
Este conto é dedicado ao meu amigo Rui G. e às nossas aventuras com o verdadeiro Homenzinho.