Deitada na cama, debaixo de dois edredãos de penas, treme incontrolavelmente de frio. Foi buscar o saco cama polar, enfia-se nele e tapa-se novamente com os edredãos.
Mas o frio não passa.
O frio não passa nem o sono chega.
Dá voltas e mais voltas na cama à espera que o sono retemperador das forças chegue, mesmo que o frio não passe. Mas sabe de cor que, enquanto não aquecer, enquanto o frio não passar, o sono não chegará e o sonho não embalará a sua vida monocromática.
Um pensamento assola-lhe a mente:
- Não há pior solidão do que ter frio na cama e ninguém ao nosso lado para nos aquecer…
Com este pensamento a queimar-lhe as entranhas, desperta completamente e entra numa espiral sem fim: está só, tem frio, não tem sono, por isso não adormecerá e desconsoladamente, não irá sonhar… o frio aumenta… o sono demora…
Para cortar com este ciclo sem fim, foi buscar Maricata, a sua gata pachorrenta, a fim de tentar aquecer ligeiramente e, enfim, adormecer. Dentro dos lençóis, suga-lhe um pouco do calor animal e sente-se menos desconfortável.
Com a gata enroscada a si e a ronronar de prazer, apenas a parte do seu corpo em contacto com Maricata aquece.
O frio que não passa, o sono que não chega, o sonho que não embala, a solidão que acorda e, agora, a dor que começa a magoar.
A dor da solidão. Sem força, Alice começa a chorar. No início, apenas as lágrimas escorrem da face para a almofada, deixando um rastro quente e salgado. Depois, começa a gemer baixinho. E, então, chora, chora, chora.
Exausta, o sono almejado chega, a solidão adormece, o sonho aquece-a e a dor apaga-se, apenas para recomeçar, outra vez, na noite seguinte!