No início, não notou que estava a sonhar. A impossibilidade do que o rodeava era ofuscada pela realidade percebida pelos sentidos, e só quando deu consigo a falar com um amigo já falecido é que percebeu que estava num sonho. Deixou-se levar, gozando a estranheza que o seu subconsciente lhe atirava.
Até que decidiu tentar algo. Na sua frente, estava parado um carro de marca indistinta. Ele concentrou-se, e tentou convencer-se de que o carro era um Ferrari. E no momento seguinte, era esse o carro que lá estava.
Meteu a mão no bolso, certo de que encontraria as chaves. Encontrou-as. Entrou no carro, e levou-o para uma autoestrada que nunca tinha percorrido, mas bastou mentalizar-se de que SABIA que a estrada era uma recta sem trânsito, para encontrar isso mesmo.
“Isto é fantástico”, pensou.
Depois de acelerar o carro a velocidades que no mundo desperto seriam vertiginosas, decidiu moldar tudo à sua volta. Tomou consciencia de que morava na casa dos seus sonhos, e quando estacionou, foi o que encontrou. Da mesma forma, sabia que lá dentro o aguardava a sua mulher ideal, e lá estava ela. Um a um, todos os elementos que compunham o sonho foram moldados só por ele os ter assumido como reais. Não demorou muito para ter tudo o que queria, e sentiu-se tão feliz como imaginara. Mas queria levar a experiência ao máximo. Veio para a rua, imaginou-se a voar. E voou.
A sensação era fantástica, tão fantástica que fechou os olhos para melhor sentir o prazer de estar livre da gravidade.
E acordou.
Estava no mesmo quarto onde vivia há anos. O choque de mudar de realidade abalou-o momentâneamente. A realidade parecia-lhe menos real que o sonho. Levantou-se da cama, desejando voar novamente, sem se lembrar que era impossível.
Olhou para baixo. Flutuava, a dois centímetros do chão.