De Segunda a Sexta, 300 palavras por dia.

27
Jun 08

Rancor, rancorosa, feia, mal jeitosa, torta, curta, rabugenta,

rigorosa, ralhosa, ralhante, ranho, ranhosa, rameira, retalho, retrato, retro, vai de retro, vais morrer. Vais morrer.

VAIS MORRER.

 

VAIS MORRER.”

 

Depois de ler aquela passagem pela terceira vez, Lena continuou sem perceber o que significava. Lembrava-se de a ter escrito. Estava no metro a preencher mais uma entrada no seu diário. Lembrava-se de segurar na caneta, enquanto esta arranhava o papel. Lembrava-se da sua mão segura e das palavras que lhe iam surgindo na mente. Tudo fazia sentido, era tudo perfeitamente racional. Mas... de onde tinham vindo as palavras? Esta era a parte que Lena não conseguia perceber. E assim, relia a passagem uma quarta vez.

 

Lena acordou do seu devaneio a tempo de sair na paragem da Alameda. Subiu as escadas e caminhou em direcção à Fonte Luminosa. A avenida estava despida de gente, devido à hora tardia, e ao mau tempo. Lena caminhava depressa para fugir à chuva, mas as palavras que não a largavam, sussurravam baixinho... “Vais morrer... Vais morrer... Vais morrer...” Virou à esquerda, numa perpendicular à Alameda Afonso Henriques. Já só pensava em chegar a casa e ao refúgio que esta lhe prometia, quando sentiu uma dor contundente e repentina na nuca, que rapidamente se alastrou pelo seu corpo. Quase sem um grito, caiu no chão e só então se apercebeu do sangue que lhe empastava o cabelo, antes de se misturar com a água da chuva que corria fora do passeio. Começou a ficar com frio, muito frio, gelada, um gelo de morte. Morte.

 

 

Lena morria devagar, como num embalo. E, antes de fechar os olhos e se entregar àquela última carícia, apercebeu-se que as palavras por ela escritas tinham sido, na realidade, um aviso.

 

publicado jjnopants às 00:01
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4 comentários:
Então?
Mais ninguém comenta o conto? :P
Pessoalmente, gostei muito :)
Luís F. Alves a 27 de Junho de 2008 às 18:15

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