É tão tranquilo viver aqui... Sou mantido quente, confortável e alimentado. Aqui estou sempre em segurança... e quando não estou, não o sinto e portanto não sofro. Por vezes ouço uma voz que fala comigo e que sem dúvida me ama.
Não há local tão acolhedor como este, não há existência tão maravilhosa como a minha.
A única desvantagem é ter de mudar de casa de tempos a tempos e são essas as únicas alturas em que sinto dor. De qualquer forma, já o fiz tantas vezes que já nem sinto tanto esse curto sofrimento... até porque sei que a seguir me aguarda uma nova maravilha como esta! Também gosto de descobrir novas vozes e novos amores de cada vez que me mudo!
Por falar nisso, pelo meu aspecto já falta muito pouco para ter de procurar nova casa. Ora deixa-me cá consultar o calendário... Xiça! Falta mesmo muito pouco! Pois... lá vem a mesma cena outra vez!
Sinto uma das paredes da minha casa rebentar e grande parte do meu conforto escapulir-se por aí. De repente, uma luz forte invade o meu espaço.
Está na hora.
Concentra-te, vá.
Concentra-te!
Ok!
Ai! Dói!
Aguenta!...
Já está!
Estou morto.
Já fora da minha residência passo pela mulher, chorando deitada de pernas abertas numa cama, que esperava ter um filho, e peço-lhe desculpa num sussurro. Agradeço-lhe também a oferta, mas viver nesse mundo vosso aí... não, obrigado!
Depois saio dali e chega a hora de procurar nova casa.
Vejamos...
Um casal está a reacender alguma paixão após anos de rotina... hm... não, muito velha a mulher... pode dar problemas.
E aquela? Ah, boa! Sexo com o pseudo-namorado, adolescente moralista... perfeito! Adoro adolescentes! Adoro ser o primeiro residente de um ventre fresco. Escolhida!
Aqui vou eu!