- Como é que vocês se sentem por estar aqui, meninas? – Berrou a apresentadora forrada num vestido vistoso e no meio da gritaria de um público feminino. – Estas nossas amigas cansaram-se de ser o Patinho Feio e vieram até ao nosso programa para serem recriadas. Temos uma equipa de diversos especialistas que vai desenhar programas individuais para ficarem nas maiores beldades de sempre. Será que elas vão aguentar o processo? – Foi assim que começou a transformação.
Fumo e espelhos, luzes e maquilhagem, tudo bonito de início. Parece que ser bonito é aquilo que realmente importa para quem se sente feio, e também parece que ser bonito é aquilo que realmente importa para quem já o é.
Borbulhenta, gorda, com uma cicatriz perto do olho direito, eu sei que ela nunca se sentiu bonita mas também acho que ninguém se preocupou em olhar para as coisas boas que tinha, apenas na sua máscara. Seja como for isso já passou, o raio do concurso serviu para mudar a aparência física dela, alguns amigos disseram que agora era a “versão 2.0” (e tentaram saltar-lhe para cima, coisa que não foi difícil visto que passar de patinho feio a cisne deixa a pessoa vulnerável a abutres).
A questão é que ela era vazia como um velho golem dos contos de fadas, a beleza esgotou-a numa vida social de aparências. E à noite olhava para o espelho e via aquela linda estranha que sempre quis ser e, em parte era; mas onde estava a que conhecia? Sacrificou-a em nome de uma transmutação, mas o metal obtido não foi ouro.
Usava uma máscara, era certo, tinha medo de a perder, também era certo. O resto dos seus dias foram passados a impedir a velha forma de se mostrar e garantir que o plástico se aguentava.