De Segunda a Sexta, 300 palavras por dia.

17
Jul 08

- Como é que vocês se sentem por estar aqui, meninas? – Berrou a apresentadora forrada num vestido vistoso e no meio da gritaria de um público feminino. – Estas nossas amigas cansaram-se de ser o Patinho Feio e vieram até ao nosso programa para serem recriadas. Temos uma equipa de diversos especialistas que vai desenhar programas individuais para ficarem nas maiores beldades de sempre. Será que elas vão aguentar o processo? – Foi assim que começou a transformação.
Fumo e espelhos, luzes e maquilhagem, tudo bonito de início. Parece que ser bonito é aquilo que realmente importa para quem se sente feio, e também parece que ser bonito é aquilo que realmente importa para quem já o é.
Borbulhenta, gorda, com uma cicatriz perto do olho direito, eu sei que ela nunca se sentiu bonita mas também acho que ninguém se preocupou em olhar para as coisas boas que tinha, apenas na sua máscara. Seja como for isso já passou, o raio do concurso serviu para mudar a aparência física dela, alguns amigos disseram que agora era a “versão 2.0” (e tentaram saltar-lhe para cima, coisa que não foi difícil visto que passar de patinho feio a cisne deixa a pessoa vulnerável a abutres).
A questão é que ela era vazia como um velho golem dos contos de fadas, a beleza esgotou-a numa vida social de aparências. E à noite olhava para o espelho e via aquela linda estranha que sempre quis ser e, em parte era; mas onde estava a que conhecia? Sacrificou-a em nome de uma transmutação, mas o metal obtido não foi ouro.
Usava uma máscara, era certo, tinha medo de a perder, também era certo. O resto dos seus dias foram passados a impedir a velha forma de se mostrar e garantir que o plástico se aguentava.

publicado jjnopants às 00:01
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16
Jul 08

A coisa mais estranha que alguma vez vi?

Sei lá. No tempo em que trabalhei para a revista Estranhas Vidas, fartei-me de ver coisas maradas...

Por exemplo:

Eu tinha sido enviado pela revista para entrevistar um tratador de animais de um circo. Achei o assunto algo banal, mas estava lá há pouco tempo, fazia o que me mandavam.

Estava a entrevistar o tratador, junto aos elefantes, e ele dizia-me que a vida do circo é stressante até para os animais, embora de maneira diferente que para os humanos. Mas que certas coisas resultam para aliviar o stress, independentemente da espécie.

Enquanto ele falava, um dos elefantes insistia em dar-lhe toques no ombro com a tromba.

- Isso é para o cumprimentar? - perguntei.

- Não - respondeu o tratador. - Isto é ele a pedir um dos tais alivios de stress.

Com a maior das naturalidades, o tratador tirou um cigarro do maço que tinha no bolso, acendeu-o, e deu-o ao elefante. E eu fiquei sem palavras, a ver o elefante a fumar.

O tratador riu-se.

- É como lhe disse, cada qual alivia-se como pode - disse ele, enquanto passámos ao elefante seguinte.

Esse elefante também lhe dava os tais toques no ombro.

- Este também fuma?

- Não - disse o tratador, virado de costas para mim, mexendo em algo que eu não conseguia ver, mas que tinha tirado de outro bolso.

Minutos depois, o tratador ergue algo para junto da tromba do animal. Era um espelho, com três linhas de pó branco nele, que o elefante inalou avidamente.

Eu estava chocado, e devia dar para ver isso no meu rosto. O tratador limitou-se a encolher os ombros.

- Meu amigo, a mim pagam-me para lhes dar o que eles precisam. - disse ele - Não estou aqui para julgar ninguém.

 

publicado jjnopants às 00:01
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15
Jul 08

Toda a gente já sabia, menos Amélia, que foi a última a saber. Lenta e inexoravelmente, a morte fria e insensível aproximava-se, rondava-lhe os calcanhares e, mesmo assim, ela não a via.


O primeiro sintoma foi a falta de ar. Para Amélia, respirar era penoso.
Depois, surgiu a dor no peito.
Dor intensa.
Dor imensa.
Dor interminável.
Dor infinita, sem fim visível, que se alastrava para os braços, para as mãos, tornando-as dormentes.
 

De seguida, apareceram as tremuras e a falta de força.
 

Finalmente, a exaustão total. A falência emocional. O vazio.
 

Foi só nessa altura que Amélia a viu:
A morte.
 

Amélia viu a morte ali, à sua espera.
Tentou ignorá-la, fechou os olhos, pensando que, quando os abrisse, a morte já não estivesse lá, como se de um pesadelo se tratasse.
 

Tentou evitá-la, fugir, fintá-la:
vestiu-se com outras cores,
maquilhou-se,
cortou o cabelo,
deixou crescer o cabelo,
mudou de penteado,
mudou de perfume,
mudou de casa,
mudou de cidade,
mudou de emprego,
mas a morte continuava à sua espera.
 

Então, sem escolha, Amélia, resignou-se, preparou-se, na esperança de não sofrer demasiado. Esperança que a morte fosse rápida, meiga e indolor.
Cheia de coragem, Amélia preparou-se para o inevitável.
 

Foi ontem que a morte chegou. João veio a casa buscar a roupa emalada, os sapatos encaixotados, as camisas penduradas, jantou, bebeu um café, beijou os filhos, deu um beijo cheio de ternura na testa de Amélia e, foi-se embora. Saiu de casa, de vez.
 

À medida que João descia as escadas, à medida que os passos dele pisavam os degraus, a terra começou a tapá-la, o ar fugia-lhe e ela sufocava. Quando João saiu e fechou a porta, Amélia já estava enterrada, debaixo de dezasseis palmos de terra.

publicado jjnopants às 00:01
editado por Francesca Cortez em 03/07/2008 às 02:54

14
Jul 08

Há muito tempo que esperava pela chegada deste momento.
Fecho os olhos lentamente, saboreando a dormência do corpo.
Há uma música maravilhosa que saboreio.
Sinto um peso enorme a libertar-se e a ficar para trás.
Finalmente ouço um estalido, como o de um cordel a partir-se, e apercebo-me que voo tão rápidamente através do Universo, que tudo parece parado à minha volta no caminho. Parece que uma atracção muito forte me leva até algum ponto especifico. Não tenho noção de tempo, por isso chego lá instantâneamente.

Uma face brilhante sorri-me. À minha volta, apercebo-me, está uma multidão de luzes. Eu sou uma das luzes.
Uma voz surge da face, não em som, mas num discurso instantâneamente manifesto dentro de nós.
«Haveis levado vidas magníficas. Haveis demonstrado a força do Amor. Decidiremos agora a vossa próxima incarnação.»
Sou repentinamente invadido por uma sensação pesada: indignação!
O quê?! - penso – Ainda agora saí de uma e já me querem meter noutra?! Não! Sou livre! Antes o inferno que isto!
Apercebo-me aí que os meus pensamentos são como uma transmissão telepática e recebo de todos os presentes espanto e estranheza. Menos a face, que começa a retorcer-se e dissipar-se...

Sinto-me acordar num espasmo de consciência e tento rápidamente compreender a realidade que se me depara. Vejo uma cara e mãos à minha frente e apercebo-me que o meu corpo é de metal... mas não consigo mover-me!
«O que se passa é que queimou o circuito do controlador... olhe aqui! Já o troquei e vou agora ligar o robot para você ver que já está bom.»
«É caro?»
«Descanse que eu faço um desconto.» - e carrega num botão.

De imediato sinto-me num local quente, acolhedor e húmido...
Oh merda! Vou nascer outra vez!

publicado jjnopants às 00:01
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11
Jul 08

A cor foi a primeira coisa a desaparecer. As pessoas, as mesas, a comida, tudo se transformou em borrões descolorados de luz e escuridão, sem tons de cinzento como nas televisões antigas. Seguiu-se o som. No entanto, as pessoas continuaram a falar. O Professor Durbenheim expressava as suas opiniões sobre os novos polímeros, e eu conseguia percebe-lo, mas nenhum som saída da sua boca. Os lábios moviam-se, mas sem som.
Foi então que algo bizarro aconteceu. Uma dimensão desapareceu. Ficamos todos 2D, como num cartoon, sem cor, som ou piada. E enquanto este fenómeno ocorria, uma sala cheia com as mentes mais brilhantes no campo da Química Industrial permanecia completamente ignorante do que se passava. Todos menos eu.
As restantes duas dimensões eclipsaram-se. Tudo desapareceu, mas não completamente. Ainda existia algum resíduo, pelo menos de mim. Ou assim me parecia.
Permaneci neste limbo de não-existência durante algum tempo, e estranhamente, senti-me mais eu próprio do que em qualquer outra altura da minha vida.
Tão repentinamente como quando desapareceu, o som voltou. Depois veio a luz e as cores e finalmente as dimensões. Tudo estava de volta nos lugares a que pertenciam, como se nada os tivesse perturbado. Tudo menos as pessoas.
Deixei a sala do buffet e fui procurar alguém que me pudesse explicar o que tinha acontecido. Vi nos anfiteatros e na recepção. Vi até nas casas de banho, mas não consegui encontrar ninguém.
Saí a correr do Departamento, sem sequer notar a sua opulência gótica. Ouvia apenas o eco dos meus próprios passos no chão de mármore, cada um deles a pesar-me mais no coração.
Lá fora, para lá da Alameda da Universidade, os carros estavam parados nas estradas, como brinquedos à espera de serem movidos.
Parei de correr. A realidade acabara de me apanhar e eu fiquei prostrado, de joelhos a contemplar a minha situação.

Eu estava completamente só.

publicado jjnopants às 00:01
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10
Jul 08

Caro amigo, lamento informar que estou encurralado. Os cabrões apanharam-me, não acredites que me vão levar a bem! Antes de me colocarem a camisa-de-forças, mato alguém. Diagnosticaram-me uma patologia da mente devido à minha excelente capacidade de ligar factos, e querem que eu admita que sou um doente. Sei que eles mentem porque a minha voz interior nunca me deixou de guiar (não sei de onde vem esta voz... que se lixe!!!).

Descobri facilmente que me vigiam a todo o instante (câmaras e chips por todo lado, e os tipos de fatinho, bem sei). NÃO TÊM MAIS NADA QUE FAZER?!?!?!! No prob, tenho uma arma pronta para rearranjar a fuça mais engraçada, tenho também este encantador sorriso (queres vê-lo de mais perto? Chega-te cá que não mordo, talvez dispare).
 
Estranho!? Em vez da camisa-de-forças trazem armas de fogo, afinal Eles são mais inteligentes do que eu pensava. Tu sabes quem são, meu amigo! Os mesmo que nos perseguem desde que nascemos, que foram nossos professores, nossos ditadores.

Gostava que estivesses aqui comigo, como antes, boa dupla que formámos. Se tivéssemos agora juntos, venceríamos... mas estou sozinho (eu consigo matar uns quantos. Mas fazes-me falta). E tu amigo, onde estás? O que te aconteceu? Fala, por favor!!! Diz qualquer coisa!

Ouço uma voz electrónica, “O teu amigo entregou-se, estás sozinho. Não tens hipótese nenhuma de fugir. Entrega-te!”. Devem ser parvos, não acredito nas mentiras deles!

Respondo com um simpático: Vai-te foder! (que até pode ser entendido como um conselho para uma noite bem passada). Prefiro morrer a lutar do que morrer a viver dentro deste sistema. Saio a correr na direcção deles, a disparar que nem um louco (Isto sim dá-me liberdade), uns quantos caem como moscas, será que vou conseguir safar-me dest...

                               [Bang certeiro…menos  um pensamento fora do Sistema]
 

publicado jjnopants às 00:01
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09
Jul 08

Ele nunca a tinha visto sorrir. O que era estranho, estando ele apaixonado por ela.

Não, apaixonado não. O termo era forte demais. Sentia-se atraído, uma daquelas atracções que tomam conta de nós. Isso. Era uma atracção.

Que surgira semanas atrás quando ele for a um bar com uns amigos. Ela estava lá. Linda. Perfeita. O centro de todas as atenções. Estava claramente a divertir-se, a linguagem corporal dela assim o indicava, mas nada de sorriso. O que lhe dava um ar enigmático ainda mais captivante.

Durante toda a noite, ele não conseguiu tirar os olhos dela. Eventualmente, ela fitou os dele. E continuou a fitá-los, por mais uns momentos ainda. Acabou por desviar ele o olhar.

Não a conseguindo esquecer, ele voltou a esse bar sempre que pôde, e ela estava frequentemente lá. Os olhares cruzavam-se sempre. Ele nunca fazia nada. E ela desviava a atenção.

Até hoje, em que ele finalmente ganhou coragem, e trémulo, dirigiu-se a ela. Ela viu-o, e fitou-o. Estaria contente por ele se ter decidido? Estaria admirada? Sem sorriso, não era possivel ver. Mas ela não deixou de o fitar, até ele se sentar ao lado dela ao balcão.

Ele olhou para os olhos dela, e sorriu. Ela olhou para os dele, e finalmente, sorriu também.

O sorriso dela parecia morto. Parecia sugar toda a luz que irradiava dela. Ele próprio sentiu-se quase desfalecer, sentindo-se invadido por um vazio que quase o derrubou. Mas não deixou de a fitar. Ela, por outro lado, baixou os olhos para o balcão. Ela sabia. Talvez fosse por isso que não sorria nunca.

Ele levantou-se, e voltou para junto dos amigos. Olhou para ela. A alma da festa esfumara-se num sorriso morto. Ela continuava cercada de gente. Mas aos olhos dele, era a pessoa mais só do mundo.

publicado jjnopants às 00:01
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08
Jul 08

A aula tinha tudo para decorrer como habitualmente. A professora entrou, seguida de trinta alunos, jovens, barulhentos e cheios de vida, de energia. Como sempre, eles demoraram alguns minutos a sentarem-se, a tirarem das mochilas e dos sacos, os cadernos, livros, canetas, lápis, réguas, compassos, calculadoras, enfim, toda a parafernália necessária a uma aula de Matemática. Ao mesmo tempo, terminavam, urgentemente, as conversas importantes iniciadas nos pátios e corredores, desligavam ou silenciavam os telemóveis ou mp3, que esta professora não é de brincadeiras com gadgets electrónicos que resolvem fazer-se ouvir no meio da aula.


Então, repentinamente e em uníssono fez-se silêncio. Lá fora chovia. A chuva era forte e barulhenta. Era bastante audível o bater dos pingos contra as vidraças da janela. Todos dentro da sala ficaram siderados a olhar para a janela.
O silêncio gritava.


Interrompendo-o, a professora ditou o sumário da aula prestes a começar. Como autómatos e sincronizados, todas as esferográficas ou lápis riscaram os papéis. Mas a atenção de todos se concentrava nas vidraças e na água que por elas abaixo escorria.
 

A chuva tornou-se mais forte. Os pingos protestavam a bater nas vidraças. Todos os pensamentos se uniram à espera do momento em que a chuva iria, de certeza, vencer o vidro. Toda aquela água lavava, purificava, curava todos os males do mundo! Aos olhos dos alunos, aquela água iria permitir-lhes realizar todos os seus sonhos. Aos olhos da professora, parecia-lhe ser possível recomeçar tudo de novo, apagar o passado, partir do zero, ter a vida à espera dela.
 

Como marionetas, em sintonia, todos se levantaram, caminharam para as janelas e abriram-nas. Um a um, todos saltaram para o pátio, para a chuva redentora, num batismo colectivo.
 

A escola chorou os seus mortos. Todas as escolas da cidade foram reconstruídas apenas com um andar.

publicado jjnopants às 00:01
editado por Francesca Cortez em 03/07/2008 às 02:55

07
Jul 08

«Olha que cãozinho tão giro!» - diz a mulher, caminhando de braço dado com um homem.
«É giro é! Estes pequeninos são os piores! Assustam-se com tudo e atiram-se às pessoas!» - riposta o homem encolhendo-se um pouco ao contacto das patas do cão nas suas pernas e ao som agudo dos latidos.
«Oh Vasco... não sejas assim! Não vês que o canito não faz mal? Só quer é festas, vês?» - a mulher inclina-se e passa as mãos pelo dorso do animal.
O cão pára de ladrar e olha a mulher directamente nos olhos, depois solta alguns sons meio gemidos como se estivesse a querer falar com ela.
«Oooohhhh tão lindo! Vês Vasco? Ele só quer festinhas...»
O homem encolhe o canto da boca num ar resignado.
O cão, no entanto, continua a olhar bem fundo nos olhos da mulher e com o seu murmúrio canino.
«Pronto, agora já chega... amanhã dou-te mais festinhas.» - a mulher volta a erguer-se.
O animal saltita à sua frente, rodopia, ladra, ergue e encolhe as orelhas.
«Vá, Farrusco! Põe-te a andar. Não ouviste? Amanhã.» - atira o homem, contente por o interlúdio terminar.
Puxa o braço da mulher e recomeça a caminhada.

O animal desistiu e o casal prosseguiu. No exacto momento em que vão a atravessar a rua, um carro arranca demasiado cedo no cruzamento, embate de lado no autocarro que passava e despista-se, colhendo o casal e arremessando os seus corpos para uma distância considerável.
O cão vem ter comigo ao banco do jardim com um ar muito triste.
«Deixa lá... tu tentaste. A culpa não é tua.» - digo para o reconfortar.
«Oh Manel... xiça! Vocês humanos são mesmo estúpidos, pá!» - responde-me ele irritado.
«Nem todos, amigo, nem todos!» - e passo-lhe a mão pelas orelhas.

publicado jjnopants às 00:01
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04
Jul 08

“Porque é que ele estava ali?” Era o que Hugo se perguntava. “Porquê? Certamente que não era pela Causa!” Ele mal sabia que existia um país, algures em África, chamado Djibouti, muito menos que, por lá as pessoas morriam à fome. “Há sempre alguém a morrer à fome em alguma parte do mundo e ninguém quer saber disso, eu incluido.” Então porquê? Por que raio estava ele ali?
Há mais de um ano que Susana fazia parte da Campanha The ONE. Ela sempre se tinha interessado pelo que de errado se passava no Mundo. E por isso ela tinha-se manifestado pelo Protocolo de Kyoto, contra a globalização, pela independência de Timor-leste... Ela gritava frases de protesto e segurava posters, porque ela acreditava, ela era uma Crente. Ela Sabia que as pessoas podiam fazer a diferença e Mudar o Mundo.
Deviam estar centenas de manifestantes reunidos em frente à Embaixada dos EUA. Homens, mulheres, crianças, principiantes e activistas profissionais, todos eles unidos pela mesma crença. Hugo conseguia palpar a raiva dirigida à dormência daqueles com o poder para ajudar, mas sem a vontade. Conseguia sentir a certeza de estar no lado da Razão. Essa raiva e essa certeza eram suas também. Foi então que ele soube porque tinha vindo. Hugo, o cínico, o não crente, tornou-se uno com os manifestantes.
Durante dez horas eles não arredaram pé dali. A imprensa veio, tirou fotografias, falou com os líderes, mas da Embaixada não houve resposta. Lá dentro nada mudou. Susana sentia-se vazia, sem força e estava à beira das lágrimas. Com a exaustão as dúvidas caíram sobre ela como as chuvadas de Abril. “Fará ela alguma diferença? Poderá algum indivíduo realmente mudar alguma coisa, ou será tudo uma ilusão?” Porque preocupar-se quando é tão mais fácil não querer saber... Com as lágrimas a escorrer pela cara, Susana vai para casa para nunca mais voltar.

publicado jjnopants às 00:01
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