De Segunda a Sexta, 300 palavras por dia.

30
Set 08

Tinha tido uma vida fabulosa com a minha irmã. Todos em casa nos prestavam a respectiva e merecida vassalagem: éramos da realeza!
No entanto, tudo acabou quando Afonso foi viver em nossa casa. De repente, deixaram de nos adorar e começaram mesmo a ignorar-nos. Sim, no dia em que Afonso entrou, os nossos pés dirigiram-se para a porta!
Um dia pentearam-nos para ficarmos bonitas porque íamos passear. Saímos para a rua, num dia invernoso, escuro, ventoso e frio.
Estavamos desconfiadas, porque tínhamos ouvido as conversas sussurradas entre eles e sabíamos que Afonso estava doente, pois sofria de umas alergias quaisquer. Mas não estávamos preparadas para nos deixarem no Orfanato.
Puseram-nos num quarto com mais trinta. O medo passou a ser uma constante, pois todos os dias éramos agredidas. O nosso único conforto naqueles dias duros, era estarmos juntas.
Os dias passaram sem darmos conta das datas, apenas a luz sucedia ao escuro, a noite sucedia ao dia, repetidamente.
Um dia, a felicidade pareceu-nos ser novamente possível: uma família de acolhimento. Pura ilusão! No novo lar, deram-nos banho e obrigaram-nos a comer. Detestamos água e não tínhamos fome, só queríamos paz, sem medo nem traumas. Mais um tempo amargo.
Depois soubemos que havia duas famílias adoptivas interessadas. Separaram-nos. Fui para uma casa e a minha irmã para outra. Nunca mais ouvi falar dela.
A minha família adoptiva era estranha e quando viram que estava doente mandaram-me embora. Foram-me buscar.
Estava parada, infeliz e a desejar morrer, quando outra senhora apareceu. Disse-me palavras doces, afagou-me e deu-me um bocadinho de comida na boca. Há tanto tempo que não era tratada assim…
Decidi ali que iria adoptar esta senhora: levantei os olhos e olhei para ela, ergui a minha pata e toquei-lhe gentilmente na cara, aninhei-me no colo dela e ronronei alto.

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29
Set 08

«Ahhh... assim, amor? Gostas?»
«Isso... mais força, vá... mais força!»
«Ahhhh... Ai tão bom... Ahhhh.... Ai, Sofia tão bom!»
De repente ela pára. Se calhar fiz merda.
«Sofia?! Quem é a Sofia?!»
Merda, merda, merda. Caraças! Não me lembro do nome desta.
«Calma, amorzinho... foi um lapso... eu explico...»
«Explicas o quê?! Já percebi que não sou a única!! Afasta-te de mim!!»
Ela encolhe-se e empurra-me com os braços. Agora o que faço?
Nisto, calho a olhar na direcção que encarava quando a... satisfazia... por trás.
Aha!
«Não, amor! És a única... eu explico-te. Deixa-me explicar vá...»
Ela começa a chorar agarrada à almofada.
«Vá, eu explico. Eu estava a fazer amor contigo deste lado, não é doce? Pois. E o meu olhar estava virado para a tua estante ali, amor, vês? Quando vi o teu livro da Sophia de Mello Breyner que tu tanto gostas, lembrei-me do que te deveria oferecer no teu dia de anos... só pensava em ti, meu amor!»
«Mentiroso! És um mentiroso!»
«Não, meu amorzinho... é a verdade... tens de acreditar em mim... amo-te tanto...»
Ela olha para a estante, olha para mim e chora mais ainda.
«Vá amor... eu aqui no nosso momento mágico, recebo um sinal do que te devo oferecer e tu ainda me acusas de ter outra?»
Ela encara-me, chorando, levanta-se e fecha-se na casa de banho.

Tranco a porta. Tenho de o deixar marinar agora.
Pego na toalha e limpo as lágrimas. Xiça... estou cada vez melhor nisto!
Sinto-me orgulhosa das minhas capacidades com os homens.
Enlouqueço-os na cama e eles ficam a meus pés!
Pena é dar tanto trabalho quando não me lembro do nome do tipo com quem estou. Vá lá que este descaíu-se primeiro...

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26
Set 08

“Percorre as ruas de qualquer cidade e vais sempre encontrar dois tipos de pessoas. Os Lobos e os Cordeiros.”
“As hipóteses de encontrares um Lobo enquanto olhas os transeuntes são escassas. Mas isso não é importante, pois quando tu encontras um, tu sabe-lo imediatamente. Tu ficas com aquela impressão irritante, algures no teu sub-consciênte, que diz que há algo de errado com aquela pessoa, uma espécie de gume escondido. E, tal como um cordeiro a olhar para um lobo, tu és simultaneamente fascinado e aterrorizado por essa pessoa.”
“Em tempos, eu conheci um Lobo. Chamava-se Vitor. Ele não sabia o que era, apenas que não pertencia, que era um animal diferente. Vagueava de noite pelas ruas à procura de uma resposta para uma pergunta que não tinha. Foi então que conheceu outro Lobo, este na pele de uma miúda, a Rita. Ela também não sabia que era um Lobo, apenas que era diferente, mas ao contrário do Victor, ela tinha desistido de procurar. Ela tinha aceitado a diferença.”
“Passado pouco tempo o Vitor e a Rita formaram uma alcateia, macho e fêmea alfa. O inicio da relação foi intenso e apaixonado, como dois lobos solitários que finalmente tinham a companhia da sua própria espécie.”
“Não sei se foi o facto de o Vitor não conseguir viver com a diferença que os unia ou se foi o facto de a Rita se orgulhar dela, mas algo começou a envenenar aquela relação. As discussões eram tão intensas quanto as lutas entre lobos, chegando a envolver agressões físicas. Eles acabaram por se separar e a Rita desapareceu de circulação.”
“O Vitor voltou às deambulações nocturnas, mas de ânimo diferente. Já não procurava uma resposta, procurava uma solução. Encontrou-a na heroína.”

“Nós dividimo-nos em Lobos e Cordeiros. Eu sei o que sou. E tu?”

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25
Set 08

A vida é para quem se sabe governar, dizia o meu paizinho.
Tipos sacanas escondem, muitas vezes, terríveis origens que de alguma forma nos justificam os seus actos. Quando desmascarados por pessoas de bem, esses sacanas são tratados pelos maiores especialistas do mundo para estimular o melhor que eles têm, aposta-se numa vertente reabilitativa. Depois há os outros. Sacanas que não têm qualquer acontecimento sombrio na sua origem e todas as suas acções malévolas prendem-se apenas ao demonstrar da sua verdadeira natureza.
Conheço bem as pessoas, infelizmente não sou muito bom a entender pinguins maléficos.
Suponho que por esta altura já todos conheçam as crueldades do Sr. Cubo de Gelo, esse terrível pinguim encontrado em animação suspensa algures no pólo norte. Na altura em que foi encontrado um pinguim possuidor de destreza mental, todo o planeta achou que estávamos numa nova fase de desenvolvimento espiritual, em que todos os animais ascenderiam a um novo patamar de existência. Nem pensar, era só mais uma mutação da natureza, aquilo a que chamamos na gíria "filho de Chernobyl".
No início do século XXI, o Sr. Cubo de Gelo dedicou-se a criar uma empresa para vender gelados. Gelados tão bons como calóricos. Este animal foi responsável pela obesidade crescente que atacou a geração dos nossos filhos (e de alguns primos afastados). As nossas banhas desenvolveram-se e as carteiras do rufia dilataram-se.
Famílias inteiras viram os seus membros a pedirem empréstimos, a arranjarem três empregos e a venderem órgãos vitais de vizinhos sem amigos.
Esse terrível vilão continua a viver impune, agora com um restaurante próprio sempre a encher as panças de muitas pessoas, (nem pelos impostos foi apanhado)... E à conta desse sacana tive de fechar o meu negócio de algodão doce que fazia tão bem às crianças, às vezes até tinha nutrientes verdadeiros.

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24
Set 08

O bando de pombos estava a dois metros de Ricardo, e como era costume, ele permitiu-se um daqueles prazeres simples que não fazem mal a ninguém, e correu para eles, obrigando-os a fugir.
Os pombos voavam cada vez mais alto, quando um deles sentiu um aperto na barriga, defecando com a naturalidade costumeira.
Os dejectos cairam no visor do capacete de um homem de mota, que por um segundo se desconcentrou, não vendo o cão que naquele momento, decidira atravessar a estrada. Quando o viu, desviou-se repentinamente, e acabou por se despistar.
A mota ainda andou alguns metros, descontrolada.
O cão fugiu a toda a velocidade, sem saber em que direcção ia. Passou por Ricardo, tão depressa que este tropeçou, e caíu de cara no chão. Levantou-se a sangrar do nariz, e dirigiu-se ao posto médico mais próximo.
O cão acabou por se abrigar no canto de uma paragem de autocarros, encolhido e a ganir.
A mota finalmente parou, enfiando-se na porta de um carro estacionado perto da paragem.
O dono da mota, ileso, decidiu aguardar que chegasse o proprietário do carro danificado. Este não demorou a chegar, possivelmente alertado por alguém. Chocado, discutiu com o dono da mota, apesar deste assumir todas as responsabilidades.
O cão, ainda assustado, decidiu voltar para casa, e avançou devagarinho, passando pelos dois homens a discutir. No calor do momento, o dono do carro deu um passo atrás, e pisou o rabo do cão, que reagiu mordendo violentamente o braço do homem, e fugindo de seguida. O dono do carro acabou por ir ao posto médico, onde por pouco não se encontrou com Ricardo.
Mais tarde, de paciência esgotada, o dono do carro acabou por se irritar com os mais pequenos erros nos testes dos seus alunos, dando mais negativas do que normalmente.
Uma das negativas, claro, foi a de Ricardo.

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23
Set 08

Ser pai em part-time quando antes o era a full-time é difícil. Estar apenas uma hora por dia com o meu filho, quando fui eu quem esteve sempre a seu lado, em todos os seus pesadelos, dando-lhe a mão, afagando-o, sussurrando-lhe palavras meigas, encostado ao meu peito até ele adormecer, é amputar parte importante de mim.

Compensá-lo da minha ausência é uma preocupação diária:
Fazer magia numa hora.
Ser o Homem Aranha ou o Batman.
Ser herói por uma hora.
Ser pai…

Há dias, estávamos a jogar ao Lencinho com uns amigos. Miguel era o número dois e eu o três. Gritaram “DOIS!” e lá foi ele, todo empenhado, mas perdeu. O seu desapontamento rasgou-me o coração que chorou. Quando gritaram “TRÊS!” decidi fazer magia, ganhar o lenço para o meu rapaz. Cheguei primeiro, arranquei o lenço e voltei para trás, vitorioso e a sorrir.

Não sei como, ao correr, tropecei e caí, mãos rasgadas pelo alcatrão arenoso, pele levantada. O meu campeão ao ver o estado em que o seu pai/herói/mágico estava, entrou em pânico, começou a correr, sem rumo, à minha volta e a gritar de aflição. A dor, o olhar dele e o silêncio dos vizinhos ruíram a barragem da minha coragem aparente e chorei, chorei como nunca antes.

Refugiei-me em casa, que antes dizia minha e fui cuidar das mãos. Tratamentos básicos de primeiros socorros. Faltava uma tesoura para cortar a pele. Pedi ao Miguel para achar uma. Ele procurou mas não a encontrou. Usei os dentes.

Regressei à minha toca, apenas uma cama e uma secretária. Passaram horas e eu continuava imóvel na cama, sem forças para fazer o quer que fosse. À noite, quase meia-noite, o telefone tocou. Do outro lado, a voz do meu campeão, a chorar, dizia:

“Pai! Vem cá! Encontrei a tesoura!!”

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22
Set 08

Esta noite alguns dos do meu povo serão libertados da escravatura.
Há seis guardas na entrada principal. Por aí não é possível atacar, mas sabemos que outros dois fazem rondas pelo perímetro do recinto e que numa das arestas mais escondidas podemos ter sucesso.
Eles aproximam-se. Faço um sinal e ouço os passos ligeiros dos meus três companheiros nas folhas caídas. Distingo nas formas de dois deles que preparam os arcos para disparar.
Novo sinal meu.
O sopro quase simultâneo de duas flechas a cortar a brisa precede os gritos abafados pela ausência de ar, um espasmo nas sombras e o som de corpos a cair. Aí, eu e outro corremos com pé leve até à zona onde caíram. Escondemos os cadáveres e aproximamo-nos da paliçada. Colocamos o mecanismo entre dois dos troncos. Giramos a maçaneta e começa a abrir-se uma brecha. Noto movimentação no interior. Quando a passagem está larga o suficiente para uma pessoa, surge um grito lá de dentro e uma tocha acende-se com uma faísca. Um rosto zangado apresenta-se.
“Venham! Estão livres!” - digo com entusiasmo.
Alvoroço no interior.
“Ladrões!! Chamem a guarda!” - grita o homem empunhando a tocha.
“Não! Nós somos das montanhas! Viemos libertar-vos!”
“Libertar?! Estão a invadir a nossa casa!! Libertar do quê?!”
“Venham, não há tempo!”
Estico o braço. O homem encosta o fogo à minha pele. Eu grito e salto para trás. Os restantes guardas aproximam-se.
“Alto aí!” - gritam.
Duas flechas matam os primeiros dois guardas. Os outros desembainham as espadas e atiram-se a nós. O meu companheiro morre no primeiro golpe. O segundo perfura-me e eu cedo à dor paralisante. Caio no chão estupefacto.
Antes de me render à morte, ainda ouço uma voz no interior da paliçada:
“Salvaram-nos destes bandidos!...”

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19
Set 08

Rapunzel desmancha a trança devagar, os seus dedos movendo-se com a precisão adquirida durante anos de prática. Olha em volta para um quarto luxuosamente mobilado, o único que conhece. Um quarto no topo de uma Torre, a Torre no centro de uma Floresta. Está só.
Durante muitos anos apenas conheceu a velha que cuidava dela. Vinha todas a noites com uma cesta de comida e pedia-lhe para largar a trança pela janela. Enquanto Ranpunzel comia, a velha percorria o quarto com um olhar reprovador. Terminada a ceia, a velha ia-se com a cesta, sem palavra ou carícia.
Os dedos hábeis percorrem as suas longas madeixas, espalhando óleo de amêndoas, num prelúdio para o pente de ouro e marfim.
Quando já era crescida, veio um desconhecido que lhe pediu que largasse a trança. Já no quarto, agarrou-a e deitou-se com ela. Rapunzel não gostava daquele homem, pois ele era rude e magoava-a, mas nunca se atreveu a dizer-lhe que não. Tinha medo que ele partisse, deixando-a sozinha outra vez. Mas o homem cedo se enfastiou dela e foi-se embora, sem sequer dizer adeus.
Rapunzel penteia os cabelos devagar. Depois de o homem a ter abandonado, o ventre começou-lhe a inchar. Rapunzel sentiu-se feliz, pois já não estava só. Mas quando o bebé nasceu, a velha meteu-o na cesta e levou-o, surda a gritos e súplicas.
Rapunzel refaz a trança. Ata a ponta ao poste da cama com um nó cego. Caminha até à janela, senta-se na umbreira e deixa-se cair. A trança seguea-a até que se ouve o som seco do pescoço a estalar. No quarto, o nó desfaz-se sobre o peso e Rapunzel chega finalmente ao chão.

*

A velha chega com a noite e vê Rapunzel caída. Corta-lhe a trança com um punhal, guarda-a na cesta e vai-se embora.

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17
Set 08

Os Deuses lançaram os dados e o resultado foi favorável à espécie humana. Em diversos pontos de Gaia, alguns humanos sentiram um aumento súbito de força, resistência e intelecto. Tornaram-se líderes de grupos de humanos e assim o poder do Homem sobre os outros animais manifestou-se, seguindo a vontade dos Deuses.
Num pedaço de terra junto ao local onde em tempos habitaram os Atlantes, havia uma região conhecida como Terras de Cervaria, terra de belos cervos comandados pelo Rei Cervo. Um grupo de humanos coexistia naquela terra e um deles sentiu o acordar de um ser mais antigo mesmo dentro de si. A primeira coisa que fez foi competir com os da sua espécie para se mostrar soberano. Depois passou a medir forças com cervos e por fim desafiou o próprio Rei Cervo. Desafio aceite!
O choque entre os dois guerreiros fez vibrar as nuvens no céu e parou o correr do rio, conta-se que todos os sons, além da batalha, deixaram de existir. Gaia esperava pelo resultado da batalha. Sangue de homem, sangue de cervo, terra, metal, hastes, dor e ossos esmagados. A espada de ferro arrancou um olho ao Rei Cervo, em resposta o homem deixou de ter cincos dentes da sua boca. A batalha durou horas, o Rei-Cervo venceu para morrer ferido e exausto. O seu restante olho ficou a reflectir as primeiras estrelas que surgiram.
Homens e Cervos da região ficaram desprotegidos, sem ninguém para assumir a liderança, pareciam estar completamente perdidos.
Como é que iriam intimidar os vizinhos da outra margem do rio? A solução foi criar um espantalho gigante com a forma do Rei Cervo e colocá-lo no alto do monte que os acolhia e ainda hoje podem encontrar uma versão desses espantalho na terra que agora é conhecida como Vila Nova de Cerveira.

publicado jjnopants às 12:02
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No início, não notou que estava a sonhar. A impossibilidade do que o rodeava era ofuscada pela realidade percebida pelos sentidos, e só quando deu consigo a falar com um amigo já falecido é que percebeu que estava num sonho. Deixou-se levar, gozando a estranheza que o seu subconsciente lhe atirava.
Até que decidiu tentar algo. Na sua frente, estava parado um carro de marca indistinta. Ele concentrou-se, e tentou convencer-se de que o carro era um Ferrari. E no momento seguinte, era esse o carro que lá estava.
Meteu a mão no bolso, certo de que encontraria as chaves. Encontrou-as. Entrou no carro, e levou-o para uma autoestrada que nunca tinha percorrido, mas bastou mentalizar-se de que SABIA que a estrada era uma recta sem trânsito, para encontrar isso mesmo.
“Isto é fantástico”, pensou.
Depois de acelerar o carro a velocidades que no mundo desperto seriam vertiginosas, decidiu moldar tudo à sua volta. Tomou consciencia de que morava na casa dos seus sonhos, e quando estacionou, foi o que encontrou. Da mesma forma, sabia que lá dentro o aguardava a sua mulher ideal, e lá estava ela. Um a um, todos os elementos que compunham o sonho foram moldados só por ele os ter assumido como reais. Não demorou muito para ter tudo o que queria, e sentiu-se tão feliz como imaginara. Mas queria levar a experiência ao máximo. Veio para a rua, imaginou-se a voar. E voou.
A sensação era fantástica, tão fantástica que fechou os olhos para melhor sentir o prazer de estar livre da gravidade.
E acordou.
Estava no mesmo quarto onde vivia há anos. O choque de mudar de realidade abalou-o momentâneamente. A realidade parecia-lhe menos real que o sonho. Levantou-se da cama, desejando voar novamente, sem se lembrar que era impossível.
Olhou para baixo. Flutuava, a dois centímetros do chão.

publicado jjnopants às 00:01
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