- Sabes que horas são? - pergunto-te.
- Não. Já é tarde?
Claro que não sabes. Perdemos os dois a noção do tempo.
- É meia-noite.
- Já? - Soas alarmada. Mas depois sorris, o sorriso que mostras sempre que olhas para mim, e encostas a cabeça para trás no sofá. - Passou-se num instante...
Eu sei. Como é possível passar nove horas contigo, e saber a tão pouco? Querer tanto passar mais tempo ainda, só na tua presença? Só a gozar o momento, porque tu estás nele?
- Pois foi...
O nosso olhar cruza-se. Sorris novamente, e só pelo prazer que isso me dá, sorrio também.
Um pequeno silêncio. E um pequeno bocejo teu.
- Já estou cansada – dizes, olhando para o relógio. - Tenho mesmo que ir...
A frase soa a um lamento. Eu sei. Também não quero que vás. Não quero que o nosso tempo juntos acabe, por nada deste mundo! Quero-te comigo...
- Podias cá ficar esta noite... Ou queres ir?
Primeiro deitas-me um sorriso trocista, mas depois olhas-me nos olhos, e como sempre, lês-me a alma. Mordes o lábio, olhando para o teu colo, quase embaraçada.
- Não... Mas tenho que ir...
Não tens. Diz-me que não tens. Diz-me que queres ficar, ver o amanhecer comigo. Diz-me que queres a minha companhia. Que queres sentir-me junto a ti por mais tempo.
- Não tens nada... - Ganho coragem, acaricio-te o rosto. Coras ligeiramente, e por um momento, estupidamente, penso em parar. Mas caio em mim, e termino a carícia. - Diz que sim, diz que ficas...
O meu olhar procura o teu, mas ele ainda está no teu colo.
Deixa-te de coisas. Por favor. Sê corajosa, por nós os dois. Tem a coragem que me falta. Diz que ficas. Diz que podes. Olha-me nos olhos, e diz...
- Sim...