A alegria preenchia-o de tal maneira, que ele não aguentava mais ficar dentro de casa. Por isso saiu.
Ele não era de apreciar o ar de noites húmidas e frias como aquela. Mas não se conteve.
Deixou a vivenda para trás, e dirigiu-se para o pequeno aglomerado de árvores a que sempre chamara bosque. Sentou-se na terra húmida, olhando as nuvens, pensando na sorte que tinha. Sentia que tinha toda a sorte do mundo.
Na véspera, confessara finalmente o seu amor. Não fora fácil. A mulher que amava era sua amiga há anos, tinha medo de a afastar. Mas não aguentara mais, e dissera-lhe tudo o que sentia. Ela nem soube como reagir. "Sinto tantas coisas neste momento, parece que vou explodir", dissera ela.
Ele fora para casa, e passara o dia seguinte sem sair, desolado. O que mudou ao anoitecer, com um telefonema dela. Queria falar com ele pessoalmente. "Estou mais calma, e tenho pensado muito. Acho que vais gostar do que tenho para te dizer."
Ele quase explodiu de alegria. Mas ela tinha um compromisso, e combinaram para a noite seguinte. Não cabendo em si de contente, ele saiu, para o pequeno bosque onde agora, sentado, observava o céu.
Viu uma estrela cadente. Desejou fazê-la feliz, ir contra todas as probabilidades.
A estrela não respondeu. E tarde demais, ele reparou que ela vinha na sua direcção. Tentou levantar-se, mas a bola de fogo foi mais rápida.
A última coisa em que pensou, antes da massa de fogo atingir o bosque, foi na probabilidade quase nula de ser atingido por um satélite. "É quase como ir ao casino durante toda a vida, e ganhar sempre os prémios máximos", ouvira certa vez. "Não é impossivel. Mas é preciso ser-se um homem de sorte".