Olho para ti, e suspiro.
Tenho consciencia de que és a Tal, és a certa para mim.
Mas não tenho como evitar esta conversa. Preciso de fazer isto.
- Amor – digo-te, quase num lamento – tens que compreender. Eu amo-te tanto… Mas já não tenho como dar-te o que precisas.
Continuas a olhar na minha direcção como se eu nem ali estivesse. Permaneces impassível.
- Eu não tenho como te sustentar, amor. Tu tens necessidades demasiado caras. Cada vez que chega uma conta das coisas que compro para ti, é quase uma renda! Eu não tenho hipótese…
As tuas pálpebras cerram-se em câmara lenta. O teu queixo baixa-se ao mesmo ritmo. Ficas de boca aberta, de olhos fechados. Tento não pensar naquilo que não devo. Não resisto, e as lágrimas caem-me.
Eu sei que a nossa situação não pode continuar, eu sei que não te posso sustentar, não tenho como. Mas doi-me tanto. Já não tenho energia para te dizer mais nada.
Por um segundo, pareces desiquilibrar-te, e antes que eu possa reagir, cais para a frente. Salto na tua direcção, mas já não te consigo apanhar. Cais de cara no chão, imóvel. Pego na tua forma inanimada, abraço-te, e choro. Não reages. Já não podes.
Não suporto saber-te assim.
Entre soluços, tomo uma decisão. A minha mão desce as tuas costas, até encontrar o que procuro, a espécie de ranhura onde preferes que não te toque. Meto lá a mão. Retiro um pedaço de plástico e metal, a cheirar a queimado. Atiro-o para longe.
- Pronto, está bem – digo-te, tentando parecer decidido por entre as minhas lágrimas – só mais esta vez. Eu compro-te um chip de EPROM novo. Mas vai ter que ser em segunda mão, estás já avisada.