Fomos à nossa vida.
Voltámos as costas.
Dissemos adeus.
E ela disse: “Desculpe, mas tenho que ir atender…”
Chegou um cliente.
Olhámos nos olhos uma da outra e fiz-lhe uma carícia na face engelhada com tanto carinho.
Como eu gosto da minha sogra.
Ela disse: “Tão boa que você é! Gosto tanto de si. É pena não ter dado certo. Tanta pena!”
Então dei-lhe um abraço e chorámos as duas.
Trato por tu a solidão, conheço de cor o som gritante das paredes, senti a dor ensurdecedora da casa vazia, sei o que custa querer alguém para falar e ninguém para o fazer! Desejar acima de tudo, ser amada e querida por quem amamos e que é cego à nossa dor. Sei o que ela sentiu e sei o que doeu.
E com uma tristeza infinita nos olhos disse-me: “Veja lá, Filipa nenhum deles me telefona ou me vai visitar! O Ricardo apenas aparece com os meninos para comer ou com a roupa para lavar…“
E continuou: “Ahhhh, estou tão triste! Ontem, domingo, estive todo dia sozinha e pensei com os meus botões: Virgínia - tens cinco filhos e nenhum te telefona para saber se estás bem ou não, nenhum!”
“Ah, então quer dizer que o Ricardo está de folga e foi buscar os filhos. Acho bem…”, começou ela.
“Estão com o pai e eu vim pôr a mota na revisão e depois vou dar um passeiozito com a Matilde.”, respondi-lhe.
Perguntou-me: “E a Filipa vai bem? E os meninos?”
Disse que sim, que estava bem.
Voltei a sorrir e perguntei-lhe: “Como vai, está boa?”
“Está bonita, a minha nora. Bem, você sempre foi bonita”, disse ela, simpática como de costume.
Eu sorri e beijei-a.
“Olha quem é ela!”, exclamou a Sra. Virgínia.