Em frente ao espelho uma cara pintada de branco, sorriso rasgado, um nariz vermelho, uma peruca verde e um facalhão cheio de sangue na mão. Uma imagem estranha que para a entendermos temos de nos deslocar uns anos ao passado desta estranha personagem.
Joaquim adorava ir ao Circo, principalmente para ver os palhaços. Tudo o resto que fazia parte do espectáculo era
completamente acessório. Mesmo que aparecesse o trapezista mais ousado, a contorcionista mais flexivel ou o leão mais amestrado, nada daquilo o impressionava.
Adorava profundamente tudo o que tinha a ver com palhaços... Até ao dia em que um palhaço lhe assassinou toda a família. Ele escapou por um acaso curioso, atrasou-se a chegar a casa porque ficou de castigo numa aula de Português. Quando chegou viu só o palhaço, a ser algemado pela polícia, a dar gargalhadas histéricas:
- Chegaste tarde puto. Perdeste a cena com mais piada, adultos a pedirem para não serem mortos. Mas lembra-te o espetáculo tem de continuar.
Meses e meses de terapia, não fizeram o pequeno Joaquim deixar de urinar durante a noite. Aquelas gargalhadas, a roupa com sangue, a família morte e, principalmente, a frase "Mas lembra-te o espectáculo tem de continuar". Era verdade, tinha mesmo de continuar. Não era continuar a sua vidinha de um jovem nascido numa família que se deixou assassinar por um palhaço, mas sim continuar o trabalho do predador que colocou o ponto final na sua vida inferior. Tornou-se assim um Palhaço.
Chegamos nós à cena inicial.O sangue pertencia a uma massa de restos mortais que decorava o tapete, noutra sala estava outro corpo. Não tinha um caminho traçado, apenas uma vontade anárquica de matar e nada o iria parar. Em três meses, tornou-se o assassino mais procurado da Europa e ainda hoje anda por aí.