Joana andava em fisioterapia há já algum tempo. Inicialmente notou bastantes melhorias, mas ultimamente recaíra. Talvez o stress em que andava ou a ânsia que sentia impedissem que os tratamentos resultassem. A mudança de terapeuta não a preocupava. Antes era paciente de um senhor experiente e com mãos sábias. Agora, era um homem novo, talvez com 25 anos, no máximo, recém-licenciado, sem muita experiência mas com bastante empenho. Ela entregava-se nas suas mãos sem qualquer receio.
Além de ser empenhado, Paulo era simpático e bem humorado, sempre com um comentário prazeroso a partilhar.
A nuvem que tapou o Sol daquela relação simbiótica de terapeuta-paciente surgiu quando ele descobriu que Joana era professora de Matemática. O equilíbrio entre eles perdeu-se. Paulo passou a fazer os tratamentos em absoluto silêncio e as suas massagens denotavam falta de qualquer empenho. Joana ficou intrigada, não percebia a razão de tão radical mudança.
Ao que parece, Paulo teve chatices com a sua professora de Matemática no seu 12º ano de escolaridade e odiava-a profundamente. Joana foi o canal de saída do seu ódio. Por vezes os seus olhares cruzavam-se e ela assustava-se com o lampejo de ódio que ele deixava escapar.
Ficou muito pior do ombro. Deixou de conseguir levantar o braço. A força das mãos falhava-lhe.
Joana falou com ele, explicou-lhe que estava a ficar pior, que o seu tratamento não estava a fazer o efeito desejado. Paulo ripostou:
-Está a fazer o efeito desejado, sim senhora! Você está cheia de dores e ainda vai ficar pior. Vai pagar aqui todo o mal que as professoras de Matemática fazem aos alunos, ao redor do mundo! Odeiúúúú a setoura!
Joana fez queixa dele aos donos da Clínica de Recuperação Ficamos Curados Depressa mas ninguém acreditou na sua palavra, porque…
Era dia 1 de Abril!