Pedro ainda não conseguira desviar o olhar dos copos de água. Eram absolutamente idênticos, até no nivel de líquido que continham. E isso perturbava-o. Bem mais do que gostaria.
Afinal de contas, ele devia estar radiante, não perturbado. Tinha conseguido, após anos de pesquisa e experiências falhadas, fazer o que todos julgavam impossível: abrir um portal para um universo paralelo.
Todos, claro, menos ele. Ele SABIA que era possível. Sabia que as suas capacidades singulares e o seu ponto de vista único triunfariam.
E tinha razão. Naquela tarde, Pedro bebeu um gole do copo de água que mantinha consigo quando trabalhava, ligou o gerador de energia negativa, e viu o ar a desdobrar-se sobre si mesmo, abrindo uma porta para outro universo.
E dessa porta semi-visivel, surgiu um homem. Exactamente igual a Pedro.
O Outro Pedro não falou, limitou-se a sorrir. Da sua parte, Pedro não sabia sequer o que pensar, quanto mais dizer. Sentia todas as suas fundações deitadas por terra, e nem sabia porquê.
O Outro não esperou por nenhuma reacção. Avançou até ao copo de água de Pedro, e colocou outro ao lado dele.
- Não stresses, ok? - Disse o Outro. E com isso, voltou a atravessar o portal, que se fechou atrás dele.
Por alguns minutos, Pedro ficou a olhar para o ar, onde o portal estivera aberto. Depois voltou-se para os copos.
Sentia-se derrotado. Toda a sua vida se considerara, de alguma forma, especial. Fora aquilo que lhe dera forças para o seu triunfo, saber que conseguiria o que mais ninguém conseguiu. E agora... Sabia que havia pelo menos mais um ser igual a si. Talvez mais! Talvez uma infinidade, um para cada universo!
Finalmente, com um suspiro, pegou no copo deixado pelo Outro. Bebeu um gole de água. Sorriu. E bebeu o resto.
O sabor era diferente, mas saciou-lhe a sede na mesma.