Domingo é dia de visitas da família, por isso é um dia de alerta para todos os funcionários da Casa de Repouso "Amigos dos Idosos". Um dia de muitas emoções, quer se receba uma visita, dez, ou zero. Um dia com muito mais confusão, muitas caras novas e, para o velho Carlos, uma possibilidade de fuga.
Já tentara fugir inúmeras vezes, a maior parte das fugas durante excursões e festas de Natal. A Direcção da Casa de Repouso não conseguia compreender o motivo do Carlos querer fugir, faziam de tudo para que ele se sentisse bem e, mesmo assim, parecia que a mente dele só concebia fugas da instituição (sem nunca as conseguir concretizar).
Todos tinham família, a dele desapareceu. Ele sabia que estavam todos vivos, talvez em Espanha, simplesmente tinham-no abandonado ali para morrer. Precisamente naquele dia, o filho mais velho tinha decidido aparecer para pedir perdão ao pai. Um contratempo no seu plano de fuga, optou por fingir uma ira gigantesca e colocaram-no sala, mesmo pertinho da porta da rua. Andava ali um puto a brincar com um carrinho vermelho, Carlos não hesitou:
- Olá pequenino! Fazes-me um favor? Abre a porta para eu tomar um bocadinho de ar.
O puto abriu a porta e afastou-se. Carlos e uma porta aberta. “Ela” sempre a chamar por ele.
Deu consigo a acordar fora da Instituição, sem pequeno-almoço, sem sorrisos simpáticos, sem outros velhos. Sentiu-se em Paz. Olhou para o mundo em redor e sentiu-se maravilhado pela situação de incerteza. Procurou uma nespereira e sentou-se à sua sombra num estado de completa absorção pelo seu mundo interior.
A mente parou, a ilusão desfez-se.
Ao abrir os olhos, livre de qualquer nevoeiro da mente, tomou a grande decisão da sua vida: tornar-se um ninja. Foi assim que se iniciou o primeiro capítulo da Saga "Carlos, o ninja de bengala".