Correria e muita poeira, forma sucinta de apresentar a vida da Telma desde a sua fuga. Um trajecto sem qualquer meta à vista. Na parte de trás do carro roubado, estava a sua inseparável serra eléctrica. Quilómetros de tapetes de alcatrão passados, estações de serviço como abrigos ocasionais e uma sensação de falta de direcção.
Durante uma curta paragem para almoço, um senhor idoso começou a falar com ela. De acordo com aquele senhor, Portugal ía ser nvadido por extraterrestres. Quem lhe tinha contado fora um ilusionista reformado de nome Mário. Aquela conversa doentia martelava-lhe o cérebro de tal forma que pediu ao senhor para mudar de assunto. Então ele disse:
- Quer uma nova identidade?
- Ora aí está uma conversa que interessa – desabafou – como me poderia arranjar uma nova identidade?
- Arranjo-lhe um BI falso, uma casa para residir em Évora e, com a ajuda da minha mulher, dou-lhe uma nova aparência.
Acertaram todos os pormenores, no espaço de 13 dias, a Telma passou a ser a Mafalda, o seu cabelo passou a ser ruivo e a sua nova residência alentejana dava-lhe uma nova calma. Comprou um gato que baptizou como “Espinhas”, em nome de outros tempos. E por fim chorou a morte da Telma para poder festejar o nascimento da Mafalda.
Uma noite escura sem sonhos foi o local onde adormeceu, acordou num dia cheio de sol. Saíu para procurar emprego, já tinha visto o sinal a pedir empregado numa mercearia local. Ficou logo a trabalhar lá, era um trabalho que deixava a mente dela descansar. Para já era tudo o que queria.
Nos primeiros meses ainda pensava em si, como uma vida paralela, depois aos poucos foi assumindo o controlo daquela nova vida e seguiu em frente. Mesmo assim continuou a conservar a sua antiga serra eléctrica.