Data estelar - 34782.19. Diário de bordo do Comandante Jerónimo Onn Jaks, da nave espacial Valentia.
Ainda não foi hoje que me suícidei.
Por mais tentador que seja, ainda não tive a coragem de seguir o exemplo da maioria da minha tripulação. Já vai na terceira morte desta semana.
É verdade que o índice de suicídio das naves exploradoras é sempre alto, mas o da Valentia parece destinado a bater todos os recordes. Olho para os rostos da tripulação, e vejo-os tristes, deprimidos. Sem vida. Daí ao suicídio não vai grande distância. E suponho que eu próprio não estou diferente.
Ás vezes, interrogo-me porquê. Mas basta-me olhar para fora da nave, e percebo.
O Espaço é tudo o que está lá fora. Enorme. Negro. E acima de tudo, vazio.
Mandam-nos da Terra para procurar novos mundos, novas terras, novas civilizações. E nós vamos. Inicialmente, penso que íamos pelo espírito de aventura, pela vontade de descobrir coisas novas. Mas isso foi há séculos. Agora vamos porque não sabemos mais que fazer, porque procuramos um propósito.
Mas nunca encontramos nada. Só planetas vazios. Nunca há sinais de vida, passada ou presente. E em vez de encontrarmos um propósito para as nossas vidas, somos confrontados com a verdadeira falta de sentido delas. Porque estamos aparentemente sozinhos no Universo. E no vazio do Espaço, essa solidão é insuportável.
Por isso o que realmente me espanta é que ainda alguém encontre forças para se agarrar à vida.
Pessoalmente, é porque tento ainda ter força para estar com a Valentia quando um dia ela voltar a casa permanentemente.
Quem dera poder fazer ver aos nossos líderes que é melhor desistir de uma vez. Esquecer que alguma vez explorámos o espaço.
Quem dera que percebessem que mais vale agarrarmo-nos à fé que teimarmos em matar a esperança.