Mas como? Cooomooooo?
Como foi possível teres-te deixado influenciar pela estória ridícula de um livro? E ainda para mais sabendo como eu detesto feridas, hospitais, sangue!
Andaste muito silenciosa nos dias após a leitura daquela merda de livro. Depois começaste subtilmente a questionar se te amava verdadeiramente ou não. E depois? Depois começaste a exagerar.
«Eras capaz de fazer alguma coisa de irreversível por mim?» perguntaste-me um dia; «hmmm, hmmm» respondi-te enquanto folheava o jornal do dia anterior.
Como é que me iria passar pela cabeça que querias que tatuássemos as nossas iniciais à tesouradas no nosso corpo? Mas que gesto de amor é esse? Não chegam as vezes que te aturo as birras, que partilho as tuas alegrias, que te compro presentes?
Mas não, querias mais, leste uma estória de amor ridícula nesses romances que só tu gostas de ler, e decidiste que querias mais de nós! Que a vida assim a dois era uma seca. Querias mais provas.
«Ah sim, então já agora porque não nos matamos, como o Romeu e a Julieta?» espicacei-te um dia quanto te apresentaste na sala com uma tesoura afiada. Voltaste-me as costas resignada e amuada, e pensei que a coisa ficasse por ali.
E foi então que um dia te encontrei em casa, estendida, com um frasco meio cheio de comprimidos ao lado e um bilhete que dizia: «É a tua vez. Amas-me ou não?».
Maldita sejas. Sabes bem que sempre fui um indeciso.